No prédio onde moro está sendo realizada uma obra para melhorar a qualidade e o fornecimento de energia elétrica ao edifício. E aí percebo que estou sem energia elétrica em minha casa. E a geladeira, televisão, microondas, sanduicheira e o telefone não estão funcionando. Isso sem falar no microcomputador e na internet.
Como escrever sem microcomputador e internet? Cheguei a pensar na velha máquina de escrever . Aos mais novos, já na faixa dos 30 anos, máquina de escrever é um instrumento com letras e tipos que batidos em cima de uma fita de pano marcavam as letras em uma folha de papel (ainda tenho uma dessas em casa). Também pensei em escrever à mão. Por que não? Lápis, caneta, papel são instrumentos usados para escrever. Não é só o editor de texto do computador que escreve.
Ah! conscientizo-me de que aqui e agora não tem energia elétrica. Mas tem a minha energia. Tem lápis e lapiseira (adoro escrever à lápis), borracha, caneta e papel. Tem papel pautado e sem pauta. Colorido e branco. Conscientizo-me que ainda não tem reciclado. Tem mesa e prancheta. Tem luz do sol. E principalmente minhas idéias. São tantas que está difícil organizá-las.
Conscientizo-me de que estou impregnada de energia elétrica, que vem por fios e cabos. As notícias do mundo chegam por aí mas também chegam pelo jornal em papel impresso. Posso sair e comprar um ou mais jornais. Ler com a luz do sol na praça ou em casa. Notícias de amigos e parentes, que também chegam por cabos de energia elétrica, aqui e agora só se for pelo celular. Ha há há... o celular que graças à energia elétrica está com a bateria carregada e pode fazer e receber ligações. Ó céus! Como viver sem energia elétrica?
Às vezes me pergunto: como vivi até agora sem internet? Ora, do mesmo modo como estou aqui e agora. Como meus pais me educaram, meus avós aos meus pais e assim por diante. Tá certo que com energia elétrica as coisas andam mais rápido e levam facilidades aos lugares mais distantes.
Mas e daí? Agora não tem energia elétrica e estou agindo de acordo com minhas idéias, com minha própria energia. Conscientizando-me de que posso fazer muitas coisas como olhar para mim mesma. Sim, pois nesse caso a energia elétrica atrapalha, distancia, desconcentra, me atrai para, num computador ligado à internet, clicar e em segundos ir ao outro lado do mundo, ir até mesmo a outros planetas. Ir a realidades diferentes da minha, ler textos inteligíveis, ver personalidades conturbadas, tudo tão concreto, tão insípido, tão fora do meu alcance...
É, a falta de energia elétrica está servindo para conscientizar-me de selecionar melhor o uso dos materiais elétricos, não só para uma utilização ecologicamente aceita como também para preservar minha própria energia, minha luz, meu Eu.
Minha cara miga, também penso que nós, pessoas comuns, vivemos muito, mas muito melhor do que D.Pedro II ou a rainha Vitória, por exemplo! Só que com o progresso e os avanços tecnológicos do "pacote", estão juntas as falhas e deficiências, típicamente humanas!
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ResponderExcluirSobre o texto em si, nada a comentar. Achei muito bom.
Diria apenas, para lembrar, que a energia elétrica parecia vir para deixar a humanidade com mais tempo livre para pensar, criar e evoluir. O mesmo com a computação. A realidade mostrou-se diferente, exatamente ao contrário. O homem teve que ficar mais rápido e ao invés de tempo livre, criamos "homens livres", livres de emprego porque as máquinas passaram a fazer o trabalho deles e os obrigaram a aprender nova profissão. E tome de estudos para se manter atualizado e não ficar para traz, porque quando você acaba um curso e começa a por em prática o que aprendeu, já tem alguma novidade tornando esse seu aprendizado obsoleto/ultrapassado.
Luiz Alberto M. Castro